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Cachoeira Bulha D'Água, em Tamandaré

Cachoeira Bulha D'Água, em Tamandaré

Não há placas indicativas ou qualquer tipo de sinalização.  Sem a ajuda de um “local” ou de alguém que conhece bem a área, é quase impossível chegar lá. Até porque o acesso é restrito.

Para chegar lá, é preciso passar por um caminho de pedras e rodeado pelo verde. Já havia percorrido esse trajeto uma dezena de vezes rumo às praias no extremo sul do litoral pernambucano e às que ficam na divisa com Alagoas.

Esse ponto destoa completamente da paisagem do resto da viagem. Aqui sim há indicações de onde estamos. É a Reserva Biológica de Saltinho, em Tamandaré (PE), às margens da PE-76. Foi criada em 1983 como forma de preservar a fauna e a flora desse pedacinho de Mata Atlântica.

E uma das riquezas do lugar é uma queda d’água de aproximadamente 10 metros de altura. Uma abertura discreta na cerca que rodeia a reserva é a porta para um espetáculo de sensações.

A temperatura da água é de, em média, 15ºC

A temperatura da água é de, em média, 15ºC

O cheiro do verde e o som da água correndo às pressas fazem o convite para que sigamos adiante. Poucos passos mata a dentro nos conduzem a até então desconhecida para mim Cachoeira Bulha D’Água (não sabe o que é bulha? Descubra aqui).

No começo, o deslumbramento com o cenário. Depois, surge a vontade de experimentar. O primeiro contato da pele com a água é difícil. A temperatura média é de 15ºC. Mas nada que um “banho de cabeça” não faça desaparecer a vontade de desistir.

Por fim, a melhor das sensações. A força da água sobre o corpo, uma massagem da natureza. E um só pensamento, no melhor estilo Fábio Júnior: “Demorei muito pra te encontrar…”

Relógio das flores sob neblina - Garanhuns|PE

Relógio das flores sob neblina - Garanhuns|PE

Recife, meio-dia. O termômetro oscila entre 28°C e 30°C. Sol quente, tempo abafado. No céu, poucos pontos esbranquiçados. O mundo é azul, já diria o russo Iuri Gagarin, no longínquo 12 de abril de 1961. Um sonho de verão, não é? Nada disso. Estamos em pleno inverno. Benvindo ao litoral nordestino!

Aqui, é sol o ano todo, com raras exceções. Vez por outra chove um pouco, um dia ou dois seguidos, talvez. Depois o calorzão reaparece. E assim passam-se os dias, semanas e meses de inverno. Quando menos se espera, a página do calendário das estações já virou e lá se vai mais uma vez a esperança de sentir um ventinho frio sobre a pele.

Mas nem tudo é sol a pino no Nordeste, para a alegria dos admiradores de temperaturas mais amenas, como eu. Muitos zombam, mas existe sim festivais de inverno por aqui. E o nome não é só enfeite.

Um dos mais famosos é o de Garanhuns. O município fica no agreste pernambucano. Cerca de 230 quilômetros separam o Recife dessa bela e florida cidade onde as temperaturas despencam para os inimagináveis – para os padrões nordestinos, é claro – 10°C. Quem vive na zona rural garante que chega a menos. Lá, as mãos ficam geladas, a calça jeans nem sempre é suficiente para aquecer as pernas e – o melhor – dá para brincar com a fumaçinha que sai da boca!

Triunfo: é aqui onde está o ponto mais alto de PE

Triunfo: é aqui onde está o ponto mais alto de PE

Mas o título de cidade mais fria de Pernambuco pertence, por mais irônico que isso posa parecer, a um município que fica no sertão do Estado.  A 440 quilômetros do Recife, Triunfo registra as menores temperaturas do inverno pernambucano. Com frequência, os termômetros ficam abaixo dos 10°C.

Quando ainda estamos na estrada que leva até lá, já é possível notar a mudança de “clima”. Um pequeno município chamado Santa Cruz da Baixa Verde marca a transição entre a quente e seca Serra Talhada e a fria e florida Triunfo.

A cidade está na parte mais alta do Estado, a cerca de 1000 metros de altitude. É lá onde fica o ponto mais elevado de Pernambuco: o Pico do Papagaio, a cerca de 1.200 metros acima do nível do mar.  Do alto, uma vista inspiradora e um friozinho bem sertanejo. Isso é que é inverno ‘arretado’!

O cheiro está vivo na minha memória desde criança. É uma mistura singular; uma combinação que só consigo sentir no São João. Fogos de artifício, fogueira, milho assado, pamonha, canjica…o cheiro de tudo junto! Mas não é só isso. Tem também o “ar do interior”. É ele que dá o toque final. Algo puro, leve, verde, que ressalta o que eu chamo de “o cheiro do São João”.

Pois bem, voltei a sentir esse tal cheiro este ano, depois de muito tempo. E como é bom! Faz sentir-me criança outra vez.  Volto a uma época em que passava a noite do dia 24 de junho acendendo fogos inocentes, mas nem por isso silenciosos. Lembro que meu irmão e meus primos compravam os maiores porque isso significa mais barulho. Comigo era diferente. Os que me encantavam eram os brilhosos.  A forma que a luz adquiria me ipnotizava. Lembro de passar horas perto da fogueira observando as cores do fogo.

"Na fogueira de São João / Eu quero brincar" - Luiz Gonzaga

"Na fogueira de São João / Eu quero brincar" - Luiz Gonzaga

Este ano, passei a noite do dia 24 em Sairé, município do agreste pernambucano que fica a cerca de 120 quilômetros do Recife. Cidade pequena com pouco mais de 14 mil moradores. Conhecida como a “Terra da Laranja”. E acredito que é em locais como esse que o São João é mais autêntico, essencialmente matuto.

Durante os festejos juninos, Sairé para, de verdade. A avenida principal é fechada. Uma estrutura com centenas de metros de uma espécie de rede de proteção é montada no meio da cidade. Lá dentro, um espetáculo de luz. Um a um, moradores e visitantes se revezam. Vão até a fogueira, onde acendem um bastão. Com ele, começam a fazer desenhos no ar e depois o arremessam. E lá vai o “buscapé”, desembestado todo, como dizem pelas bandas do Nordeste. Começa uma correria. Uns fogem, outros correm atrás do “bicho”. Arriscam a pele, literalmente, para pegar o bastão, um troféu para eles; símbolo de coragem.

Em Sairé (PE), a luz ganha forma

Em Sairé (PE), a luz ganha forma

O espetáculo dura a madrugada toda. Perto dali, um vai-e-vem de matutos e matutas nas barracas de comidas de milho, na praça principal da cidade e no palhoção, espaço montado em frente ao palco onde o forró dita o ritmo do ‘dois-pra-lá-dois-pra-cá’ dos casais. E é assim, sem o empurra-empurra dos destinos mais badalados como Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que a gente simples do interior comemora o dia do santo. Eles dizem e eu concordo: “É arretado!”.

Gastown - Vancouver (Canadá)

Gastown - Vancouver (Canadá)

O apito pode ser ouvido de longe. Em seguida, uma melodia suave toma conta do lugar. Um vapor começa a surgir. Passados quinze minutos, tudo se repete. É assim que o tempo passa em Gastown – algo como a “cidade do gás” – , a parte mais antiga de Vancouver, no Canadá.

Encontrei o lugar durante andanças pelo centro da cidade. Tinha visto algumas fotos em guias de viagem e várias pessoas haviam recomendado uma visita. Mas é preciso bem mais que isso para conhecer essa charmosa parte da cosmopolita Vancouver. Fui a Gastown quase dez vezes, sem exagero. A cada passada por lá, novas sensações, novas descobertas. O Steam Clock – o tal relógio a vapor – foi a primeira delas.

Há mais de 30 anos a esquina entre as ruas Cambie e Water tem atraído gente de todas as partes do mundo. Elas vêm atrás desse simpático relógio a vapor que lembra – e muito – a centenária Tower Clock de Londres, popularmente conhecida como Big Ben. Talvez seja por causa dessa semelhança que a impressão que temos é que o relógio, que mede cerca de 5 metros, tem mais de três décadas. Parece que sempre esteve ali, desde que os primeiros navegadores ingleses chegaram à costa oeste do Canadá e se estabeleceram, em 1867, em um assentamento que recebeu o nome de Gastown.  O casário antigo, os postes de metal e as ruas com calçamento de cerâmica do bairro ajudam a compor o cenário que não fica devendo nada ao que talvez era o lugar no século 19.

O tempo passa em Gastown...

O tempo passa em Gastown...

O relógio de Gastown é considerado o primeiro a vapor do mundo. Foi construído pelo relojoeiro canadense Raymond Saunders na década de 70, baseado em um modelo de 1875. Existem exemplares parecidos em outras cidades do Canadá, nos Estados Unidos e no Japão.

A inauguração do Steam Clock de Vancouver ocorreu em setembro de 1977 depois que o bairro passou por uma revitalização. Desde então, a melodia do Westminster Quarters – usada em relógios desse tipo e que você pode ouvir no vídeo logo abaixo – convida a uma viagem ao passado.  Aperte o play, feche os olhos e boa viagem!

Encontro do "mar de dentro" e o "mar de fora"

Encontro do "mar de dentro" e o "mar de fora" - Foto: Ismar dos Santos

De um lado, águas calmas. Do outro, um mar revolto. Logo à frente, o encontro. Soma-se a esse cenário curioso  uma vista privilegiada das chamadas ilhas secundárias – São José, Rasa e Sela Ginete – que não são habitadas.  Uma brisa incansável e um pedaço de grama fazem o convite à contemplação. São muitos detalhes para observar:  montes, ondas, aves que parecem estar paradas no ar.

O banho não é recomendado nessa área. Mas quem pensa nisso diante de uma paisagem assim? A mente inquieta tenta registrar tudo para guardar o mais rápido possível no álbum da memória. Depois, basta fechar os olhos e você terá a sua frente a Ponta da Air France, em Fernando de Noronha (Pernambuco).

Chegada de hidroavião francês a Fernando de Noronha

Chegada de hidroavião francês a Fernando de Noronha

HISTÓRIA – Essa pontinha a nordeste da ilha de Fernando de Noronha não recebeu esse nome à toa. Não é de agora e não tem relação alguma com o recente acidente com o voo 447 da companhia aérea francesa – cuja operação de busca e salvamento eu acompanhei de perto durante 10 dias – , embora seja uma triste coincidência que a aeronave tenha desaparecido justamente próximo ao arquipélago.

De acordo com a historiadora Marieta Borges, o lugar recebeu esse nome porque na década de 20 do século passado a Compagnie Genèrale Aeropostale, uma das precursoras da Air France, se instalou ali. O local servia de base de apoio para os aviões que atravessavam o Oceano Atlântico. Três edifícios foram construídos e dispunham  de uma infraestrutura moderna para a época, com direito a gerador de energia, local para armazenar água, além de uma estação de rádio. Famosos aviadores franceses passaram pelo espaço, como o também escritor Antoine de Saint-Exupèry, autor do clássico O Pequeno Príncipe (leia a obra aqui).

Hoje, só restou uma das edificações. Ganhou o nome de Espaço Cultural Air France e, desde a década de 80, é a sede da Associação de Artesãos e Artistas Plásticos de Fernando de Noronha. A arte está em cada canto da casa. Uma espécie de varanha serve de oficina para os artistas que só precisam levantar os olhos para se inspirar.

Pôr-do-sol embalado pelo "Bolero" de Maurice Ravel

Pôr-do-sol e o "Bolero" de Ravel

O dia passou meio nublado, meio chuvoso. O sol quase não apareceu naquele último fim de semana de maio, na Paraíba. Mesmo assim, a atendente da Central de Informações ao Turista recomendou: “Vá! Vale a pena!”.

Segui pela BR-230 rumo a Cabedelo, município que fica na Região Metropolitana de João Pessoa. Quando desci do carro, ouvi algo familiar. Passava das 5 da tarde. Deveria estar claro ainda, mas o céu já mudava rapidamente do cinza para o azul escuro.

Corri para um dos bares/restaurantes que ficam à beira da Praia do Jacaré. Todos os olhares e camêras fotográficas estavam voltados para o rio. Lá, um saxofonista cabeludo era levado de canoa de um lado para o outro.  O pôr-do-sol tímido e sem muito brilho não tirou o encanto da cena. O vento soprava de leve e trazia junto o “Bolero”, de  Maurice Ravel.

O tal cabeludo é José Jurandy Félix, o Jurandy do Sax. Todos os dias, a partir das 17h, ele repete a performance por cerca de 20 minutos. Isso já acontece há 20 anos e foi idéia de um grupo de amigos fãs do filme “Retratos da Vida”.